Berço da colonização da região onde está o município de Campo Verde, a comunidade de Capim Branco teve participação importante na história de Mato Grosso e, especificamente, nas telecomunicações do estado. Foi nela, que em 1896, inaugurou-se a primeira estação telegráfica do interior do estado, construída pelo general Ernesto Gomes Carneiro e pelo então tenente Cândido Mariano da Silva Rondon.
Antes, porém, a localidade já era referência. Na comunidade, segundo o historiador Mário Bordingon, que na última sexta-feira (26), ministrou palestra no evento “Tributo a Rondon”, foi implantado um destacamento militar para proteger o ouro de Cuiabá que era levado para São Paulo e os viajantes que passavam pela região. Além de Capim Branco, foram criados destacamentos na Colônia Tereza Cristina, na região Sul do estado, e em Sangradouro, mais ao Leste, onde hoje é o município de General Carneiro.
A comunidade teve também cartório e sessão eleitoral. Pela região, que era habitada pelos índios bororo, passaram personalidades históricas que se dirigiam a Cuiabá vindas de São Paulo, como o primeiro bispo da diocese da capital de Mato Grosso, Dom José Antônio dos Reis, em 1831. O caminho que passava pela localidade de Capim Branco – ou Coronel Ponce, como o lugar também é conhecido – foi aberto em 1736 e ligava Cuiabá a Vila Boa de Goiás, hoje cidade de Goiás e que à época era capital da Província de Goiás.
Capim Branco, de acordo com Romualdo Povrosnik Júnior, fará parte da rota turística que está sendo desenvolvida denominada “Caminhos Reais e Religiosos de Mato Grosso”. Romualdo, que é presidente da Associação que está organizando e formatando a rota, foi um dos palestrantes do Tributo a Rondon, realizado na comunidade de Capim Branco, na última sexta-feira (26). “Nosso objetivo aqui é sensibilizar as comunidades para que, futuramente, a gente possa trabalhar em cima de um projeto, de um produto turístico dos caminhos reais e telegráficos de Mato Grosso”, explicou ele.
De acordo com Romualdo, a Lei 12.399 de 9 de janeiro de 2024, garantiu à comunidade de Capim Branco o título de patrimônio imaterial do estado. Ou seja, a torna uma localidade protegida por lei, garantindo sua preservação. “Nós queremos agregar mais valores e dar a oportunidade do turismo de base comunitária dentro desse pedaço de chão tão maravilhoso”, afirmou.
“Nós temos um patrimônio histórico muito importante para Mato Grosso, que é essa estação telegráfica”, destacou o historiador e presidente da Empaer, Suelme Fernandes, lembrando que a estação Coronal Ponce era um tronco das linhas implantadas por Rondon interligando todas as estações localizadas na região Sul de Mato Grosso à Araguaiana, em Goiás, e a Porto Velho, em Rondônia. “Esse local tem toda uma estratégia colocada para a ocupação do sertão do Mato Grosso, do Centro-Oeste – que hoje é Rondônia, e até o Amazonas”, frisou o historiador. “Essa estação dava suporte para essa comunicação para o interior inteiro do Brasil”, acrescentou, citando que no entorno das estações telegráficas foram criadas mais de 120 cidades.
Para o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, Henrique Soares, a realização de eventos como o Tributo a Rondon é importante por resgatar acontecimentos históricos, a maioria desconhecidos pela população. “Fazer eventos como este é uma forma de a gente poder disseminar esse conhecimento, disseminar essas informações e manter a história viva dentro da comunidade”, frisou o secretário.
Diretora de Turismo da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Maria Lúcia Magalhães ressaltou que o desenvolvimento do turismo em Comunidades como a de Capim Branco necessita da participação efetiva dos moradores, que precisam estar integrados às atividades e conhecer a história do lugar. “Para acontecer, o turismo depende 100 % da comunidade local de braços abertos”, enfatizou ela.
Além das palestras que confirmaram a importância de Capim Branco e região no contexto histórico de Mato Grosso, houve também apresentação de siriri, dança típica do pantanal mato-grossense pelo grupo Flor de Capoeirinha, da Escola Estadual Santa Claudina, do distrito de Mimoso, localidade onde nasceu o marechal Cândido Mariano da Silva Rondon.